“Hoje, o Megane R.S. está descartado por causa do euro, superior a R$ 3. Mas ainda estamos estudando sua importação e analisando os números. Gostaríamos muito de trazê-lo”, sonha Bruno Hohmann, diretor de Marketing da Renault. Cada vez mais (e provavelmente em definitivo) afastado do mercado brasileiro, o hatch esportivo cristaliza a estratégia adotada pela Renault nos últimos anos: limar da gama produtos sofisticados e caros (lê-se Mégane Coupé Cabriolet, Scénic e Grand Scénic) e dedicar todo tipo de investimento a carros baratos e de volume (lê-se Clio, Sandero, Logan e Duster).
E se Megane R.S., Megane Coupé Cabriolet, Scénic e Grand Scénic sintetizam a triste abordagem da Renault acerca dos importados, o novo Logan, que entra na linha 2014 melhor e mais bonito, expõe a evolução da marca entre os nacionais.
Inegavelmente desastroso visualmente, o Logan atravessou os seis primeiros anos de vida apoiado em outras virtudes para alcançar o sucesso comercial, como amplo espaço interno, manutenção relativamente barata e robustez mecânica – na vida real predicados mais importantes do que beleza, diga-se. Ele não foi o sedã mais vendido da categoria, mas retribuiu as expectativas da Renault e foi um dos protagonistas na ascensão da marca no país, que tinha 3,15% de participação quanto o sedã foi lançado (2007) e fechou 2012 com 6,6%. Crescendo quase 1% ao ano desde 2008 (justamente o primeiro ano cheio de vendas de Logan e Sandero), a Renault espera ter 8% em 2016 – e, de novo, o sedã de origem romena será um dos atores principais.
Primeiras impressões
Além da estética, outra questão desagradável no antigo Logan era seu interior, tido como um ambiente espartano demais até para um automóvel “popular”. A cabine do novo não se tornou a mais aconchegante da categoria, mas é preciso reconhecer sua melhora. O painel de instrumentos, emprestado do Fluence, tem leitura bem melhor e indicador de troca de marchas; os materiais de acabamento são mais apresentáveis e o revestimento dos bancos trouxe mais conforto.
Além da estética, outra questão desagradável no antigo Logan era seu interior, tido como um ambiente espartano demais até para um automóvel “popular”. A cabine do novo não se tornou a mais aconchegante da categoria, mas é preciso reconhecer sua melhora. O painel de instrumentos, emprestado do Fluence, tem leitura bem melhor e indicador de troca de marchas; os materiais de acabamento são mais apresentáveis e o revestimento dos bancos trouxe mais conforto.
Certas falhas lamentáveis também foram corrigidas, como a instalação de um encosto rebatível no banco traseiro (1/3 e 2/3 na versão Dynamique e 1/1 na Expression) e, enfim, um apoio para o pé esquerdo – recurso simples, mas fundamental para uma boa ergonomia. Alavancas de abertura interna do porta-malas e do tanque de combustível, que deveriam ser obrigações desde sempre, são facilidades das quais o Logan passou a se gabar.
Bem-vindo também é o Media NAV 1.2, sistema multimídia quase tão intuitivo e bem desenhado quanto o MyLink (da Chevrolet, atual referência na categoria), e que traz – além de GPS e conexão Bluetooth – os interessantes Eco-Scoring e Eco-Coaching, que apresentam dicas para uma condução econômica e pontuação conforme o desempenho do motorista.
Respondendo por 60% dos automóveis da Renault no Brasil, a plataforma B0 – criada pela romena Dacia – sofreu alterações estruturais consideráveis, a ponto de a fabricante considerá-la uma nova plataforma, embora não represente alterações nas dimensões do carro. Segundo a marca, 72% das peças foram trocadas.
Ocorre que melhorias na suspensão dianteira (que ganhou barra estabilizadora), direção (com nova assistência variável), acústica (novas mantas foram aplicadas em pontos estratégicos) e nas bitolas (dianteira e traseira maiores em 2,7 cm e 1,9 cm, respectivamente) não se reverteram em prazer ao volante – ainda mais porque a Renault perdeu a chance, em meio a tantas mudanças, de rever o câmbio de engates imprecisos e longos. Um simples trambulador novo resolveria a questão.
O G1 experimentou as versões Dynamique 1.6 8V e Expression 1.0 16V, cujos motores seguem adequados à realidade do sedã, mas que estão longe de representar o que há de mais avançado em tecnologia – há propulsores, na própria categoria, mais potentes e econômicos. Em resumo, o sedã está mais confortável no rodar, mas há rivais mais excitantes no quesito dirigibilidade.
Acredite, é o novo Logan
O descolado Laurens van der Acker – vice-presidente sênior de Design do Grupo Renault que adora combinar ternos elegantes com tênis extravagantes – conseguiu o que muitos tentam, mas poucos conseguem. O holandês elaborou uma identidade visual característica e facilmente identificável, mas que não faz um carro parecer cópia do outro.
O descolado Laurens van der Acker – vice-presidente sênior de Design do Grupo Renault que adora combinar ternos elegantes com tênis extravagantes – conseguiu o que muitos tentam, mas poucos conseguem. O holandês elaborou uma identidade visual característica e facilmente identificável, mas que não faz um carro parecer cópia do outro.
Agora alinhado à atual identidade visual da Renault, o novo Logan mostra que o êxito de van der Acker não fica reservado aos modelos topo de linha ou aos protótipos. A lateral segue sem elementos mais complexos, mas perdeu o infeliz corte da coluna C, enquanto a traseira ganhou belas lanternas e, mais importante, proporcionalidade.
É na porção frontal, contudo, que está a maior virtude do novo Logan. Faróis e grade alcançaram um entrosamento que modelo nenhum da categoria sequer chegou perto. O símbolo da marca ficou maior, sem exagerar no tamanho, enquanto o para-choque envolve tudo com certa ousadia – note a criativa barbatana que emoldura as extremidades da grade.
Dizer que o Logan ficou bem mais bonito é injusto, considerando que a referência anterior era a pior possível – mais apropriado é dizer que o sedã ficou realmente belo. E aí, diante dessa revolução visual, foi fácil bolar o novo slogan: “Acredite, é o novo Logan”. É o que todo futuro dono vai dizer ao apresenta-lo pro vizinho.